JP Coutinho

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O indivíduo como protagonista do aprendizado

João Paulo Coutinho

Não raramente ouvimos em rodas de conversas que a sala de aula é um espaço do professor, do consultor ou do palestrante, onde eles devem ter o total domínio do espaço, do tema e dos aprendizes. Essa mentalidade, por muitos anos vem sendo assim: existe um especialista que detém todo o conhecimento e é responsável por transmitir esse conhecimento, tomando frente do processo de aprendizado. Do receptor da mensagem, sejam eles alunos ou colaboradores das empresas, espera-se que possam ser guiados por esses professores, cumprindo as atividades e tarefas e absorvendo todo o conteúdo que é transmitido.

Isso é o que chamamos de mentalidade 1.0: os especialistas definem as perguntas e as respostas. Nesse tipo de mentalidade, o ensino, as atividades e a configuração de sala, fazem com que o professor seja figura principal do processo de ensino e aprendizagem, e os alunos são meros receptores de conteúdo, sem qualquer interferência naquilo que aprendem.  Este é um modelo cada vez mais criticado, em razão principalmente da sua falta de personalização, por tratar todos da mesma forma, sem respeitar a individualidade e o contexto de cada um.

Há alguns anos seguimos para um caminho que chamamos de 2.0: onde os participantes podem fazer perguntas, mas ainda assim, existe um especialista que dá a resposta correta. É aqui que moram os grandes gurus, palestrantes, que são vistos como os “bambambãs” dos mais variados assuntos.  Aqui já existe um investimento maior no diálogo, há mais interações, mas ainda há a expectativa de que o especialista seja alguém que sabe as respostas corretas do que precisa ser ensinado. Dizemos que aqui a Aprendizagem é Prescritiva, com alguns poucos elementos da Aprendizagem emergente, colaborativa. É onde, se você quiser aprender, você tem que fazer perguntas a um especialista.

Eu não tenho dúvidas que esses especialistas podem fornecer insights incríveis e muitas vezes estes podem resolver problemas apenas explicando uma nova técnica ou fornecendo uma fórmula já pronta para um desafio. A questão que coloco é a seguinte: a aplicabilidade do que é dito nos “6 passos”, “10 dicas” ou nas “Dicas infalíveis para vender” vindas do consultor. Não é à toa que ouvimos o colaborador olhar para o que é dito e dizer: “Isso não cabe no meu dia a dia! Eu não consigo colocar isso em prática! Isso é muito bonito na teoria, mas na prática…”

Um outro olhar é que os problemas também podem ser resolvidos ao se dar um maior espaço ao participante, para que ele seja o construtor do seu próprio aprendizado.  Ao tornar o indivíduo protagonista do que aprende, temos resultados mais duradouros, de qualidade e profundos.

Como já falei neste texto, o papel do educador, é criar um terreno fértil para que o aprendizado possa emergir do grupo, utilizado metodologias e ferramentas que propiciem a colaboração. É importante criar oportunidades de participação, trazendo assuntos de interesse e relevantes para o contexto. Quando tornamos o indivíduo um protagonista do aprendizado, rompemos a hierarquia no aprendizado. Todos são responsáveis pelo conhecimento. Todos definem as perguntas e as respostas. Isso é Learning 3.0.

“Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em relação uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos…” (Paulo Freire)

Essa transformação na aprendizagem é cada vez mais urgente e importante, frente ao contexto em que vivemos, com a complexidade da vida moderna, onde tudo muda a todo momento. Hoje o aprendiz está inserido em um mundo de transformação e avanço tecnológico e é cada vez mais ativo fora do contexto escolar, imerso, conhecedor de muitos assuntos e usuário de diversas ferramentas. E na contramão desse processo, ainda encontramos escolas e organizações conservadoras, mantenedoras da mera transmissão do conhecimento. Deixo como reflexão para você, caro leitor, o quanto as soluções de aprendizado que você desenvolve e implementa são realmente eficazes, aplicáveis e significativas para o seu “público alvo”.

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